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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Rubem Braga: autor homenageado do mês


Rubem Braga (Cachoeiro de Itapemirim12 de janeiro de 1913 — Rio de Janeiro19 de dezembro de 1990) foi um escritor lembrado como um dos melhores cronistas brasileiros.

Iniciou-se no jornalismo profissional ainda estudante, aos 15 anos, no Correio do Sul, de Cachoeiro de Itapemirim, fazendo reportagens e assinando crônicas diárias no jornal Diário da Tarde. Formou-se bacharel pela Faculdade de Direito de Belo Horizonte em 1932, mas não exerceu a profissão. Neste mesmo ano, cobriu a Revolução Constitucionalista deflagrada em São Paulo, na qual chega a ser preso. Transferindo-se para Recife, dirigiu a página de crônicas policiais no Diário de Pernambuco. Nesta cidade, fundou o periódico Folha do Povo. Em 1936 lançou seu primeiro livro de crônicas, O Conde e o Passarinho, e fundou em São Paulo a revista Problemas, além de outras. Durante a Segunda Guerra Mundial, atuou como correspondente de guerra junto à F.E.B. (Força Expedicionária Brasileira).

Obras

Crônicas
  • O Conde e o Passarinho, 1936
  • O Morro do Isolamento, 1944
  • Com a FEBoça, 1957
  • 100 Crônicas Escolhidas, 1958
  • Ai de ti, Copacabana, 1960
  • O Conde e o Passarinho e O Morro do Isolamento, 1961
  • Crônicas de Guerra - Com a FEB na Itália, 1964
  • A Cidade e a Roça e Três Primitivos, 1964
  • A Traição das Elegantes, 1967
  • Crônicas do Espírito Santo, 1984 (Coleção Letras Capixabas)
  • As Boas Coisas da Vida, 1988
  • O Verão e as Mulheres, 1990
  • 200 Crônicas Escolhidas
  • Casa dos Braga: Memória de Infância (destinado ao público juvenil)
  • Uma fada no front
  • Histórias do Homem Rouco
  • Os melhores contos de Rubem Braga (seleção David Arrigucci)
  • O Menino e o Tuim
  • Recado de Primavera
  • Um Cartão de Paris
  • Pequena Antologia do Braga

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"Despedida

E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil. 

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. 

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo."

Extraído do livro A Traição das Elegantes, Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.

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